"O texto simplifica meu eu complexo, ora é aliado, ora me faz refém".- Hellen Cortezolli

segunda-feira, abril 30

Trilha sonora

Relação Injusta - Sua Mãe

Composição: Gabriel Carvalho, Tangre Paranhos e Claudinho Chacha

É melhor, ficar só...
do que viver com você,
essa relação injusta.

Se não é , por merecer
porque que eu fico sempre assim?
insisto tanto em te querer.

Não da mais, ficou ruim,
eu preciso de qualquer outra realidade em mim.

Aliás lá em casa, tem sido bem melhor
Aliás lá em casa, tem sido bem melhor...
sem você, sem você, volte, sem você, sem você, volte!

E eis que depois de uma noite de quem sou eu,
de acordar a uma hora da madrugada em desespero.
Eis que as três horas da madrugada eu acordei
e me encontrei, eu fui ao encontro de mim,
calmo, alegre, plenitude sem fulminação
simplesmente isso, eu sou eu, você é você
é lindo, é vasto, vai durar.

Eu não sei ao certo o que eu vou fazer em seguida
mas, por enquanto, olha pra mim, e me ama.
Não: tu olhas pra ti e te amas. É o que está certo.




O fim da letargia

Uma daquelas conversas que rolam na madrugada, quando o silêncio nos faz companhia e ajuda a assimilar as piores teorias que possam nos perturbar.  Aquela frase singela do melhor amigo é uma ótima oportunidade para que seus horizontes ganhem outra interpretação, os polos do universo se abrem e você finalmente se encontra, se estiver a sua procura, claro.

“Ei, essa pausa tá longa demais” – foi dessa maneira que o meu amigo/confidente e também jornalista/blogueiro Elton Tavares definiu minha ausência do mundo das letras, pensamentos ácidos e cibercultura nos últimos quatro meses.

Esse meu sono profundo e apatia suspensa sobre os fatos que mais mexeram na minha rotina, não foram extremados para deixar meus leitores com gosto de quero mais.  Longe de mim tamanha pretensão.  Aliás, rotina é uma palavra em desuso no meu vocabulário atual. O motivo foi nada além da confusão generalizada em minhas ideias mais burlescas.

Não deixei de escrever, pelo contrário, só me contentei em mostrar para duas pessoas, as mais pacientes: Elton Tavares e Ewerton França. Amigos que me aturaram nesse tempo todo... e em outros tempos também.

Um dia cheguei a cogitar que se os fracassos fossem subsequentes eu largaria tudo para começar de outro ponto, sob uma nova ótica.  Foi o que fiz e isso não é novidade por aqui.

A mudança foi tão brusca a ponto daquela minha antiga definição de mim “de pertencer a lugar algum e ser de todos os lugares” estar tão atual... E não saiu como imaginei, nada seguiu meu plano infalível. 
Acreditei em muita coisa e duvidei de tudo, com mais força do que anteriormente, inclusive dos meus potenciais. Como canalizá-los? A que me dedicar?

É como ser escrava de uma situação e quando liberta não saber o que fazer com as novidades. Resolvi ser outras pessoas, ou tantas quantas fosse possível.
Comédia, pura e sem graça!

Mas, aprendi que:
*  Não se pode ter um novo amor sem resolver paixões mal resolvidas, elas agem como monstros do armário prontos para te devorar no próximo sonho. E talvez você venha a ser igual ao seu pior inimigo.

* Adaptação nunca é simples, mas na simplicidade você pode começar a admirar sem tentar influenciar em nada a forma com que algumas pessoas veem o mundo. Talvez o mundo delas seja muito mais bonito que o seu. Então, deixe como está.

* Faça tudo que tem medo de fazer, isso inclui perder o charme característico de sua personalidade em um porre épico. Porque ninguém tem nada com isso mesmo e você não pode morrer sem antes saber como é uma amnesia alcoólica.

* Encha a bola de um cara que acabou de conhecer, fique com ele se tiver vontade, faça-o acreditar que você seria capaz de se apaixonar só por causa do timbre da voz, mesmo que não seja verdade. É lindo o brilho nos olhos dele e o poder ainda é seu.

* Ouça músicas que você detesta, as pessoas se divertem mais. O rock and roll nunca vai abandonar sua alma confusa, ele sempre será seu porto seguro, quem você realmente é. Não importa qual a sua condução (carro, moto ou cavalo), você sempre será do rock, bebê!

* Dance, dance, dance muito, divirta-se como nunca, talvez não haja uma segunda vez.

* Faça um piquenique daqueles que você só viu em ensaios fotográficos de revistas... Escolha um dia em que o clima ainda estiver bom, depois que chega o inverno não é tão divertido assim.

* Registre tudo, mesmo que seja impossível de mostrar para alguém.

* E, finalmente, mesmo que não haja ninguém para ocupar o seu coração, ou aqueles pensamentos acompanhados de boa música até às 6h da manhã, o importante é sentir que ainda é capaz de amar. Mesmo que o seu jeito seja assim, meio torto, porra louca, complicado, explosivo... Porque segundo o seu melhor amigo/psicólogo: “você cria uma situação difícil, deleta a solução da sua criação e fica deprê”...Esta sou eu, mas poderia ser você também. Rs rs

quinta-feira, abril 19

Horas de aprendizado

 Nunca conheci um alguém tão debochado quanto minha mãe. Estávamos no ônibus com destino ao Uruguai para passarmos um dia de menina (compras) quando fui alertada por ela para que prestasse atenção na conversa de duas mulheres, as quais não pude ver de quem se tratavam para melhor descrevê-las...

Era uma manhã cinza, uma daquelas que costumo utilizar para viajar em lembranças e talvez sonhos ainda não realizados. Havia chovido na noite anterior e fazia um pouco de frio.

O pouco que ouvi pude compreender que uma delas se tratava de uma hipocondríaca, que sofria de flatulências e descrevia com riqueza de detalhes o processo sofrível pelo qual era submetida após a ingestão de determinados alimentos.

Fui pega de surpresa pelo vermelhidão meio aroxeado das bochechas de minha mãe, que quase sem sucesso, se exprimiam pra não deixar escapar o riso debochado provocado por aquela conversa sem sentido.

Na tentativa de dispersar tais pensamentos ela resolveu me explicar os por menores da paisagem, sendo eu "grossa de cidade" nunca havia visto uma plantação de soja. 

Na minha visão leiga se tratava de flores miúdas alaranjadas, coisa linda de se ver. 

Em seguida, uma plantação de milho, arroz e azevém (esta última é pastagem específica para o gado), barragem de irrigação, e por fim ela não poderia perder a chance de me apresentar alguns animais. 

Disse com um tom que somente ela sabe usar, como quem fala com criança sobre coisa séria:  - Minha filha aquilo é um avestruz.  - Fiz uma expressão antipática como quem diz: Eu já sabia, mas confesso que não tinha prestado atenção e achei aqueles “patos” um pouco mais alto e magros que o normal, nada parecido com os que havia visto na fazenda do tio Davi.

Ela não contente continuou:
- E... finalmente, aquilo são vacas.
Fitei seus olhos castanhos bem delineados e com aquele cumprimento de cílios que invejo, de imediato e junto soltei uma sonora gargalhada. 

Foi só o início de uma tarde maravilhosa entre “los hermanos”.

segunda-feira, abril 2

Pegada

Quando falamos em pegada, a mente costuma associar de imediato a vestígios de pés, ou aquela marca de calçados masculinos, que leva o mesmo nome propositalmente.

Contudo, a pegada a qual me refiro, ganhou com o tempo outra conotação.
As conversas mais íntimas entre mulheres dos diversos níveis sociais e culturais, geralmente se deixam aprofundar quando o papo é esse. Nessas horas até as mais comportadas comentam suas preferências e o conceito é unânime...

O fato é que um homem com pegada deixa sua marca, e não se trata de um cara grosso ou violento, do estilo das cavernas que pega pelos cabelos... O que tem pegada é sutil, mas firme, ele não pergunta, lê as entrelinhas e se manifesta, sem ser rude.


Não é arrogante com a mulher, não importa como geralmente se comporta socialmente, entre quatro paredes, não pretende conquistar território contando o valor que pagou pelos imóveis, carros, roupas ou objetos que adquiriu ao longo da carreira. Esse papo broxante é para os fracos.

O que tem pegada beija sem morder, mas se predispõe a ser mordido. É presa com jeito de caçador. Perfumado, mas que mantém o cheiro másculo. Ele não só sua, como faz suar.
Envolve o pescoço feminino com as mãos grandes como quem as une para segurar água, toca a nuca, com as mãos e os lábios como quem pretende mais que o próprio gozo. Puxa para perto e solta... Espera que a mulher queira mais do que ele tem a oferecer.

Homem com pegada chega junto, não manda recado, nem pede pra ninguém fazer os lados. Fala pouco, o bastante, diria até o suficiente.

E jamais pergunta se pode. Mulheres inteligentes não gostam de perguntas, tudo tem o seu momento.
Homem que tem pegada sabe o que quer, quando quer.
Esse tipo é viciante. Apenas uma dose e já é possível sentir o gosto da abstinência.

Talvez todos os homens sejam capazes de ter pegada, o problema é que não é com todas as mulheres.  Pior ainda, eles não sabem disso.