Nunca conheci um alguém tão debochado quanto minha mãe. Estávamos no ônibus com destino ao Uruguai para passarmos um dia de menina (compras) quando fui alertada por ela para que prestasse atenção na conversa de duas mulheres, as quais não pude ver de quem se tratavam para melhor descrevê-las...
Era uma manhã cinza, uma daquelas que costumo utilizar para viajar em lembranças e talvez sonhos ainda não realizados. Havia chovido na noite anterior e fazia um pouco de frio.
O pouco que ouvi pude compreender que uma delas se tratava de uma hipocondríaca, que sofria de flatulências e descrevia com riqueza de detalhes o processo sofrível pelo qual era submetida após a ingestão de determinados alimentos.
Fui pega de surpresa pelo vermelhidão meio aroxeado das bochechas de minha mãe, que quase sem sucesso, se exprimiam pra não deixar escapar o riso debochado provocado por aquela conversa sem sentido.
Na tentativa de dispersar tais pensamentos ela resolveu me explicar os por menores da paisagem, sendo eu "grossa de cidade" nunca havia visto uma plantação de soja.
Na minha visão leiga se tratava de flores miúdas alaranjadas, coisa linda de se ver.
Em seguida, uma plantação de milho, arroz e azevém (esta última é pastagem específica para o gado), barragem de irrigação, e por fim ela não poderia perder a chance de me apresentar alguns animais.
Disse com um tom que somente ela sabe usar, como quem fala com criança sobre coisa séria: - Minha filha aquilo é um avestruz. - Fiz uma expressão antipática como quem diz: Eu já sabia, mas confesso que não tinha prestado atenção e achei aqueles “patos” um pouco mais alto e magros que o normal, nada parecido com os que havia visto na fazenda do tio Davi.
Ela não contente continuou:
- E... finalmente, aquilo são vacas.
Fitei seus olhos castanhos bem delineados e com aquele cumprimento de cílios que invejo, de imediato e junto soltei uma sonora gargalhada.
Foi só o início de uma tarde maravilhosa entre “los hermanos”.
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