Só mais um dia da semana cheio de afazeres profissionais. No
caminho até cumprir outra missão. Me perdia em mil pensamentos furiosos. Eles
brigavam entre si, todos queriam falar ao mesmo tempo, acontecer na mesma hora.
Saí do carro, passei pela porta de vidro, me anunciei na
recepção, a atendente sorriu e mandou que eu subisse, dois lances de escada,
virei a esquerda, puro instinto... Mal sabia onde era, mas era simples seguir as
placas de identificação.
Depois da porta uma sala estreita e comprida, quase
claustrofóbica, senão fosse o ar condicionado na potência máxima. Um sofá três
lugares, ao fundo a escrivaninha da outra secretária. Alguns barulhos além dos
pensamentos verborrágicos... Cheios de indagações.
A atmosfera da sala tinha algo além do desconforto por eu
ser a estranha, apesar de já me esperarem. Eis que surge não sei bem por que,
histórias de todos os tipos, desde o início.
Sobre a escolha por estarem ali... Isso despertou meu
interesse e não fitava mais o bloco de anotações, o dedo descansou e não estava
mais tão pronto a pressionar o REC no gravador.
Olhava os olhos de todos os que ali permaneceram bem mais
que eu e, por alguns instantes fiz da minha invisibilidade impossível, uma
aliada importante. Os observar me atribuía poderes que não sabia que tinha superaudição, por exemplo. Para ouvir
até as palavras ditas entre os dentes e superimaginação
para construir em minha mente os cenários descritos com tantos detalhes. Achei
meus personagens...
O mais falante deles me questionou tanto que por um momento
me senti como o próprio raio laser e não era para ser assim, pensei o que havia
me denunciado? Por que a figura interessante passava a ser eu? Aff meu sotaque
me denunciou...
A teia toda se deu no instante em que me perguntou se eu
acreditava em destino. Os pensamentos que até então eram mais falantes que eu,
cessaram e pensei:
Droga! Justo agora ele
me pergunta isso. Nessa fase em que o destino me deu uma volta?
Respirei fundo e respondi:
“Sempre fui muito cética para essas coisas, mas diante das
últimas circunstâncias na minha vida, não posso mais repetir que o destino é a
gente que faz, apesar de sermos responsáveis por nossas escolhas”.
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Será o fim do meu ceticismo? No que acreditar? |
Depois da entrevista, que foi tranquila. Senti que saí
daquela sala cheia de riquezas. Tão subsidiada que o tempo finalmente poderia parar.
Mais tarde em casa, exausta. Sim, porque cada um tem um
ritmo e o meu não é dos mais acelerados. Recebi a visita de uma amiga que há
tempos não via, e tínhamos muito que conversar. O tempo foi proveitoso, o papo
também, contudo percebi que essa cobrança por algo mais não era coisa só minha.
Todo mundo quer bem mais. E sempre de algum modo, acaba por ficar frustrado,
talvez seja culpa da ilusão. Talvez não.
Ceder, recomeçar, dedicação, ambição, delicadeza, fé, amor.
Essas palavras ecoaram...