"O texto simplifica meu eu complexo, ora é aliado, ora me faz refém".- Hellen Cortezolli

segunda-feira, agosto 25

Discussão entre o corpo, a alma e a palavra dita

Dormi e acordei várias vezes, algumas delas sobressaltada com imagens perturbadoras, de um diálogo possível...

Durante o dia tive momentos de total concentração e outros em que mal sabia quem eu era realmente. Contudo, em todos os momentos havia um pouco de você, ora algo que havia dito, feito, ora alguma coisa que eu gostaria de ter lhe falado e não tive coragem, oportunidade ou aquele jeito certo de fazer as coisas.

Repeti internamente que não poderia arrancar minhas máscaras aos seus olhos, nada mudaria, o tempo não iria parar, o vazio que sinto não seria preenchido e, talvez para você não passasse de uma informação inútil, que seria esquecida no instante seguinte. 

Nem com todas as possibilidades analisadas, minha mente encontrou uma espécie de conforto. Aquela máxima de que chorar faz bem não tem surtido o mesmo efeito de antes. E meus olhos não param de arder... Resultado dos mergulhos nas profundezas do mar contido em mim mesma. 

Eu apenas sentia a necessidade de admitir que nunca deixei... acho que não consigo. Ainda não.

Mesmo ciente de que você já saiba, admitir tem sido uma necessidade. Não espero que expresse nada, não imagino além de palavras que possam me magoar. Talvez um alerta mencionado anteriormente, como se o fim fosse apenas unilateral. 

Me calo, apenas calo, quando noto incongruências no seu timbre. O corpo diz, a alma tenta assimilar e a boca rejeita. 

sexta-feira, julho 25

O homem estigmatizado

O homem perfeito é aquele de apenas uma noite, cujo amor fingiu receber e dar. Porque somente por uma vez não lhe será negado nada. Aquele a quem não se beija o rosto, o pescoço, os olhos depois do ápice...

O homem perfeito banha-se admirado pela mulher a quem provocou algumas sinapses momentos antes. Se preocupa ainda em manter a atenção dela, e em saciar sua cede...

O homem perfeito não fala de seu passado, traz no olhar uma profundidade única, cheia de seus mistérios, que não devem, nem precisam ser desvendados. Ele é o que ninguém vê. É mais do que veste, faz ou possui, é apenas sentimento. E o que reverbera, lhe pertence. 

O homem perfeito não telefona no dia seguinte, para não arruinar as lembranças de um bom momento, com as trivialidades de uma relação à dois. Pois, a maioria das pessoas são como a arte do célebre pintor francês impressionista, Claude Monet, de longe exprimem toda sua magnitude, contudo, bem de perto, são apenas borrões. 

sábado, julho 19

Subliminar

Fingimos falar de sexo abertamente, como uma coisa natural, contudo, qualquer xingamento tem conotação sexual, porque há sempre algo feio, ou sujo a ser salientado. Não sou eu quem afirma, me apoderei das palavras da sexóloga e escritora Regina Navarro.

Na verdade o que mantém a atenção seja numa conversa casual ou num debate seríssimo, é a malícia, a sagacidade nas provocações. Vence o jogo quem rir primeiro, quem entender a piada, quem se revoltar e tiver os argumentos mais bem fundamentados. Quem provocar no outro profundas reflexões.

A manipulação está em excitar o sentimento de querer provar algo, principalmente, que não há nada a ser provado. Plantar a semente da dúvida, porque quem não duvida, tem certeza e se está sempre certo, não enxerga o óbvio. 

Um tipo de sedução menos onerosa ao bolso, ao raciocínio, que chega ao fim após o último gole do que tiver no fundo do copo ou da xícara. Na última garfada de bolo...

Por que discorri sobre isso? 
Porque daqui há dois segundos não lembrarei mais.  

domingo, junho 8

Parônimas Considerações

Sinto falta de escrever, tenho vislumbrado tanto... O que me impedia não era a falta de assunto à discorrer, pelo contrário. 

Me apeguei ao egoísmo de sentir apenas para mim, como quem se agarra a um bote inflável em alto mar. 

Tenho transbordado inúmeras vezes e, meu olhar marejado faz com que a imagem refletida na minha íris, tenha um efeito inagualável, bem melhor que qualquer outro recurso tecnológico.

Não há lentes que traduzam mais o meu entendimento de mundo, quanto os meus olhos, os da minha alma então, que o digam. 

E, tem sido tão diferente, minha pequenez se converte em grandeza e vice-versa. Em cada verso deixo um pouco de mim, me perco em retalhos...

Descobri que não preciso fazer sentido. Os sentidos é que me tem feito uma pessoa diferente. 

Por ventura, se alguém tiver a nefasta intenção de me ofender, e disser à boca miúda que sou de rasa expressão, me atreverei a impor que ao menos me deem um nome que honre minha condição... 

Deixarei que me chamem de poço, pois, detenho em mim profundidade e ainda assim transbordarei.

Posso pro fundo, poço profundo.   

terça-feira, abril 8

Alternativa

Ele ligou o rádio do carro e olhou para mulher ao seu lado. Perguntou-lhe o por quê daquele silêncio todo.
Ela respondeu com um sorriso. Porque para ela havia muito barulho, de seus próprios pensamentos, da arritmia cardíaca provocada pelo álcool em sua corrente sanguínea e outras ondas que não cabem nessa frase.
Havia ainda o som dos pneus do carro tocando a estrada, para que não perdessem a impressão de que estavam em movimento.
O vento assobiando na janela e ainda o timbre da voz dele.
Havia muito naquele nada.
Tudo, menos silêncio.