"O texto simplifica meu eu complexo, ora é aliado, ora me faz refém".- Hellen Cortezolli

quarta-feira, outubro 2

Desconfigurada

Desassossego e cega em minhas frágeis conclusões...
Um medo obsceno, quase um aceno ou o ensaio de um adeus.

Fazer planos, elaborar estratégias, contornar danos, e o tempo se encarrega...
De apagar memórias, elucidar histórias, lançar dúvidas, questionamentos.

E tudo começou com uma vontade de não ser mais tão robótica, hoje não sei lidar com o novo, com o jeito de me emocionar fácil, com o riso ausente e as lágrimas correntes.

Saudades de ser robô.

Submersa expressão

Palavras mal ditas, malditas, não ditas.
Palavras jogadas ao vento, perdidas, subentendidas...

Palavras escritas com caneta tinteiro mancham os dedos e o papel inteiro,
Diz-se quase tudo,
Quase, porque no fundo nem sempre se sabe o que se quer dizer.
O que se deve ou não querer.

Há, no entanto uma alma inquieta, que soluça num choro febril...

Palavras mal ditas são ditas pela metade,
Palavras malditas, amaldiçoam, viram enfermidade,
Palavras não ditas se tornam utopias, decepções, avarias.
Palavras silenciadas aos que se calam por gosto, opção, por não desejar prosseguir em observação.

E minha boca agora cala, silencia, emudece...
Meus dizeres que não dizem nada, e só assim o são porque no nada navego, me afogo, me perco, não nego.

sábado, julho 20

Artes cínicas

Não se trata de uma palavra parônima ou uma brincadeira proposital regada de ironia para falar de artes cênicas, é cínica mesmo. Há por aí aos montes e talvez você também conheça, alguém de sua convivência com tais dotes, um artista cínico.

Mas, a origem do cínico vai além de sua semântica, que despreza as conveniências sociais, muito pelo contrário, este ser específico, reconhece as oportunidades em explorar os potenciais alheios de modo a servi-lo, e não se furta de enredar tantos quantos forem necessários para que convenham aos fins em que ele for o beneficiário direto. Tão pouco economiza energia caso tenha de enveredar por outros caminhos não tão dignos.

Artífice, porque leva-se um tempo até identificar seu caráter obsceno, outro tempo mais para ver que pessoa dissoluta chega a ser, desde que a finalidade seja sempre o próprio sucesso, obviamente.

É uma trama tão bem feita, que os otários passam pelo chamado “tempo da piada” e riem exageradamente, sem notar sua patética participação no enredo, até que no fim do ato, todas as máscaras caem, e lá está você rindo de si mesmo, por não ter valor algum, por não ter entendido que o gracejo é ninguém além de você e, no fim das contas, pagar para ser motivo de riso.

quinta-feira, julho 18

Construção poética de um texto

Alinhar opiniões, imagens, juízos parece um ato singelo, há os capazes de executar com primazia, quase como um reflexo. Talvez por essa superficial noção, exista o pensamento equivocado de que qualquer um seja capaz de escrever de modo a tocar os sentimentos de alguém. 

Particularmente a coisa toda ganha largas proporções, é como vincular mundos distintos. Obter sucesso na conexão de ideias seria algo muito parecido com uma ponte. Sei o formato que uma ponte pode ter e o material que poderei empregar. Porém, um texto escrito com sentimento é mais que isso. 

É a forma que os mundos têm de se aproximarem, o meu mundo do seu. As palavras precisam ser bem escolhidas, para que a existência não seja aleatória, a intenção é mais complexa. Cada palavra, frase, num contexto, formará o juízo e, esta, acarretará em uma emoção. 

Isso sim é mágico. 

Às vezes paro diante da construção da ponte, imagino qual modelo ficaria melhor, uma ponte de madeira, de concreto, de corda, uma ponte frágil, que pode facilmente ser desgastada com o tempo, ou de repente, até aquela já destruída para que você se aventure a atravessa-la e assuma correr riscos. 

Essa ponte como disse anteriormente é aquela palavra da qual tenho vaga lembrança, e insisto nela, para que torne a conjectura na qual me insiro e quero inseri-lo, em um universo específico. 

Esse texto só foi possível, porque parei exatamente entre dois cumes, cuja ponte precisarei construir. 

quarta-feira, julho 17

Discurso dos meus métodos

Reflexões e auto-retrato
Não existe ética diferenciada para cada ambiente que você frequenta. Meus valores não mudam conforme os membros que compõem uma mesa. Não faço politicagem.

O que tenho a dizer falo na cara, não espero que ninguém se retire para isso. E, não abro mão da minha satisfação pessoal para agradar ninguém. Há um caminho extremamente distinto entre integridade moral e babaquice.

Não acato discurso medíocre, tão pouco, falsa motivação.
Nunca me submeti por dinheiro a ter de trabalhar com gente que não me fazia bem e não o faço de graça.

Amor? Ter amor ao trabalho, a arte, as pessoas nada tem a ver com submissão cega e descabida.

Até o ridículo tem senso.

sexta-feira, maio 31

Análise sobre os próprios porquês

Sempre tive pressa, porque morri muitas vezes... Literalmente até.

Tenho pressa porque no trajeto até aqui vi pessoas que colecionavam pessoas. Não que eu seja peça única, apesar do sustenta o DNA, não é também que me sinta melhor que qualquer outro, nem tão pouco pior. Contudo, não sou colecionável e sem pestanejar sempre me desfarei do que não me fizer bem.

Sou quem sou, porque já vivi algumas coisas, intensas... Potencializadas para que fosse possível construir um discernimento baseado em teorias, fórmulas e acima de tudo sentimentos. 

Carrego comigo cicatrizes de guerra, as mais profundas, de que me lembro, travei comigo mesma. 

As mentiras tomam forma de verdades se contadas muitas vezes, quem sabe até em voz alta, para que quem as profira, possa acreditar nelas. 

A minha verdade se equipara aos meus erros, porque sou adepta da filosofia do sim ou não e justificar os porquês. Essas explicações raramente são bem recebidas, lidas ou interpretadas. A verdade dói, assim como a vida dói... Se não doer como saberemos que não é um sonho? Que não estamos dormindo em nossas camas quentes? 

Sou quem sou, porque admito e sustento minhas palavras, meus atos, minhas convicções, mesmo que as quedas sejam inevitáveis. O jeito é levantar e prosseguir.

O tempo nos apresenta caminhos e, escolhemos por quais percorrer... Mas, uma coisa é certa, sempre haverá caminhos... No plural! 

A premissa de que há apenas um, além de equivocada, não nos é apresentada com cara feia, ela vem bem maquiada, cheia de enfeites, pronta para seduzir ou apenas encantar. 
Me despi sim  com o tempo, da carapaça grossa que defendia meus valores, sinto muito quando não sou compreendida, mas não surto por isso. Não perco meu sono. 

Me entendo, me aceito e com o tempo, quem sabe um dia... Posso vir a mudar. Porque até as pedras mudam. Ainda assim, descarto e não olho para trás, porque a evolução está sempre à frente. 

Hellen Cortezolli

segunda-feira, maio 27

Luta declarada

Antes eu lutava... Sério!... Vivia armada até os dentes e vestia a minha melhor armadura.
E, foram muitas guerras, muitas derrotas, muitas cicatrizes. Uma coleção vasta delas, na verdade.

Um dia me deu um estalo de que perdia as guerras porque usava sempre as armas erradas. As estratégias mais frias e matematicamente comprovadas, porém, nada eficazes. Faltava algo que eu sabia que deveria proteger, mas não mantinha comigo.

...Minha alma. 

Aprendi a lutar e vencer porque minha alma é meu punhal, meu escudo e o tesouro desejoso do inimigo... 
É ela que devo apontar para tocar a alma de quem quero conquistar. 

Chegou a hora! 

domingo, abril 7

Feliz Dia do Jornalista

Parabéns à todos os jornalistas que amam o que fazem! ;)

Novos ensaios

Senti a temperatura do corpo se elevar, enquanto o termômetro marcava 18°C lá fora. Os batimentos cardíacos se aceleraram, eu sabia o motivo. Em circunstâncias semelhantes isso é bem comum. A boca ressecada, pactua com as mãos suadas e trêmulas.
E deixam as perguntas pré-estabelecidas fugiram da mente...

Esperei pelo momento certo em que minhas fraquezas conhecidas fossem evidenciadas até que possível encará-las. Chegada a hora de subir ao palco e encarar a plateia e, minha apresentação foi quase um monólogo.


Depois da primeira aula de teatro "Palco Aberto" com Michel Godinho e uma turma harmoniosa, acredito que encontrei uma maneira de praticar alguns conhecimentos adquiridos ao longo da minha vida, carreira e demais aprendizados, além é claro da assimilar estudos e observações. Esse momento é importante porque achei que não conseguia mais escrever com a alma. 

Outro ponto importante que me motivou a subir ao palco, além da vontade de conhecer outras versões de mim mesma, foi a necessidade de entender o brilho no olhar dos atores com os quais tenho tido o prazer de trabalhar no projeto do documentário que fala sobre o teatro. Eu chamei de "monstro faminto" esse sentimento que nos arrebata a cada entrevista...

Achei que tivesse perdido a vontade de compartilhar minhas observações com o mundo, porém, notei, ao menos até aqui, que apenas mudei a direção. Contudo, continuo amando o que faço. 

quinta-feira, fevereiro 7

Fase embrionária

A submersão atual são projetos cinematográficos, curtas, documentários e webséries. Esse contexto às vezes se confunde com ansiedade dos textos escritos, me refiro ao contexto jornalístico. 

Não acredito que irei distinguir as duas linguagens, porque quando me tornar cineasta, ainda serei uma jornalista. Então será uma convergência inevitável, baseada nas experiências que trago comigo.

Porém, minha conduta junto aos meus novos colegas tem sido abreviada. Ainda me mantenho invisível, não apresento propostas, nem discuto possibilidades, apenas observo e reconheço perfis. Território novo e novas estratégias de atuação.

Adentro em uma atmosfera na qual as pessoas são diferentes, trazem um peso cultural distinto. Contudo, me sinto díspar com relação a minha própria personalidade, consigo permanecer em silêncio por mais tempo do que um dia imaginaria ser possível. 

Não sinto necessidade de compartilhar o que sei, às vezes menciono algo que qualquer um poderia ter dito ou identificado, mas que por algum motivo, não o fez... 

Ainda não sei ao certo o motivo desse comportamento aprendiz, se quero aprender mesmo ou não tenho aquele desespero em ver os resultados como antes. 

Não sei se egoísmo, receio de ferir alguns egos acostumados a aplausos, conheci tantos por aí, gente capaz de tudo, das práticas mais vis por um lugar ao sol, que acredito ter me cansado de tentar mostrar outros possíveis caminhos de acrescentar intelectual, cultural e não menos presunçosa, até humanamente.  

Hoje fui a uma reunião para discutir o roteiro. Quando o li achei interessante, por se tratar de uma estética que nunca fiz. Lógico que identifiquei os erros e porque não dizer, a egocentricidade do autor e o medo gritante de que “alguém” estragasse sua obra. Me vi ali, enfurecida com meu editor... Quem nunca? Ninguém gosta que mexam com seus ”filhos”. 

Mas, cinema é coletividade e apresentar um roteiro é permitir que outras pessoas possam criar baseado nele. Salvo especificidades de execução de algumas etapas onde não há outras formas possíveis, em síntese é isso. 

Até agora o que vi foram fragmentos de mim, engenheiro de obras prontas e isso não é um elogio, muito menos verdade. Blá, blá, blá faço melhor, blá, blá, blá vamos ganhar dinheiro, blá, blá, blá profissionalismo.

Mas, enfim... Vamos mergulhar na produção audiovisual e esperar pelo amadurecimento das ideias.

segunda-feira, fevereiro 4

Tudo novo


Quando posso aproveito minha reclusão. Usufruo da capacidade de ignorar pessoas das quais não sinto falta ou que não têm nada a me acrescentar, mas que a vida tratou de distribuir pelos cantos por onde passei. Algumas pessoas vivem a me lembrar disso.

Desventuras agem como fantasmas a me assombrar.

Minha tolerância com comentários ridículos, atualmente se tornou nula.

Perdi o pouco tato que tinha do politicamente correto. Gente que pensa ser o umbigo do mundo desapareceu. Desconhecem que também tenho umbigo e meu mundo é governado por ninguém além de mim ou os meus. E estes não duvidam, pois não permito.

Aprendi recentemente a me livrar da culpa de não atender um telefonema indesejável, ou não responder um sms igualmente desnecessário. E quando questionada digo que não estava a fim e ponto final.

Penso que pessoas que acreditam ser capazes de interpretar o que não exponho são totalmente incapazes de entender o que digo.

Quando gosto de alguém falo, quando me interesso por um homem, ele saberá por mim, mais ninguém. O resto é ridículo e inaceitável. Não dou indiretas, não finjo ser quem não sou. Tudo a partir dessa lógica é excluído, descartável.

Outra vida se abre à minha frente e apesar da aparente receptividade, piso em ovos. E temerosa me desloco a diante. Sinto dificuldades em falar, talvez não tenha tido nenhuma necessidade real. Não até o momento.

Vender meu peixe ficou tão maquinal que tenho desfrutado do meu direito de permanecer em silêncio... Ainda assim, não me faltam solicitações. E, isso me aterroriza ainda mais.

Questionamentos do tipo: O que me denunciou? Por que eu? Qual a diferença? Perseveram em se solidificar madrugada adentro. Fiz do receio um método de me camuflar e, nessa coisa tão nova, apenas desligo. Não me cobro mais, nem menos.

O cenário mudou, mas ainda não sei o que, além disso.

Não gosto de praças ou lugares abertos, não quero tomar uma cerveja gelada enquanto faço negócios, mesmo que estes sejam puramente profissionais, isso é uma prática do tempo de Ulysses Guimarães e ninguém sabe aonde ele foi parar.

Não misturo as coisas, pois conheço o caminho que elas podem percorrer.

E apesar desses parágrafos parecerem desconexos, tudo faz sentido. Cansei de ser tão boazinha, cansei de me importar com os sentimentos alheios.

Olá, esta sou eu, vestida de rolo compressor.