No último episódio, tendo rumado para as águas gélidas do norte, próximo aos arredores da Terra da Boemia, onde o audacioso príncipe Bardo havia guardado nossa Bandeira, a tripulação da Barca Furada finalmente atracou no arquipélago do Mar Ileia.
Esta região é famosa pelos ataques mortais de sereias. Mesmo assim, lá se foram os bravos e destemidos piratas. Um a um, foram desembarcando na costa da ilha: o Mestre das Ilusões acompanhado do Amigo da Capa Preta, o Poliglota, a Aspira acompanhada de uma grumete recém agregada e a Piratinha Red, que trazia consigo duas garrafas de rum. Todos rumaram para o castelo do jovem Bardo, onde já se entoavam antigos cânticos rituais de encantamento profundo.
Quando todos os convivas já se encontravam sentados à mesa, o Mestre das Ilusões, junto com o Amigo da Capa Preta aceitaram o desafio do jovem Bardo e seu Alaúde Mágico. Aqui cabe um parêntese: segundo contam os registros do poeta grego Homero, em sua obra Odisseia, a única forma de vencer e derrotar uma sereia seria cantando melhor que ela. Pois bem, o duelo entre o Mestre das Ilusões e o jovem príncipe Bardo, cada um entoando seus cantos mágicos, fez com que surgisse a primeira tenebrosa revelação da noite...
Recapitulando: Naquela mesma tarde, enquanto os piratas estavam atracados na ilha do Monstro Gaia, a Aspira apareceu no convés do navio com uma jovem discreta que se oferecia para embarcar com a tripulação, aceitando a função de grumete. O Mestre das Ilusões, iniciado nos antigos mistérios ocultos dos sete bares, ao fitar os olhos da grumete, sentiu uma certa inquietação e ficou cismado, mas preferiu calar e observar.
Porém, como o próprio Mestre já previra, a jovem grumete começou a se revelar pouco a pouco. Primeiro sob forma de sereia, tentando seduzir o Poliglota, que logo ficou enfeitiçado, recitando poemas em inglês-mandarim (a língua morta que só ele domina). E durante o duelo entre o Mestre das Ilusões e o jovem príncipe Bardo, aconteceu o que o Mestre das Ilusões mais temia: A grumete, na verdade, não era uma sereia (até porque não tinha afinação pra cantar) e, sim, era o dragão mágico Mia disfarçado, tentando passar primeiramente por simples grumete e depois por sereia!
Os cânticos mágicos do jovem Bardo e do Mestre das Ilusões, foram, pouco a pouco, trazendo à tona outras revelações e transes hipnóticos. O Poliglota, não aguentando mais a pressão e diante da visão medonha do dragão mágico, correu para a canoa que estava na beira da praia e voltou para o navio, para se esconder em seu porão, junto aos ratos.
A Aspira rapidamente entrou em transe e passou a incorporar um antigo demônio conhecido como "Lâmbidos", cujo maior poder é arrancar a alma dos mortais enfiando sua língua sinuosa e sugando os ouvidos da vítima - Ela tentou fazer isso com o Mestre das Ilusões, mas este logo entoou um cântico de exorcismo. Nesse momento a Aspira voltou a si e correu para o mar, para lançar uma mensagem na garrafa para que seu marinheiro perdido a resgatasse a tempo.
No meio do banquete, eis que surge uma nobre convidada, Sapho, a rainha da ilha grega de Lesbos. Sob os efeitos mágicos dos cânticos do duelo, a rainha logo voltou-se para a Piratinha Red, admirando sua beleza (da qual falarei posteriormente). E o mar do arquipélago de Ileia, de calmo, de repente tornou-se revolto. Luzes estranhas começaram a girar nos céus, prenunciando talvez a chegada da aurora boreal. O mar avançava cada vez mais em direção da praia e a situação ficou sufocante.
O jovem Bardo finalmente largou seu alaúde mágico, assim que conseguiu o que queria - sim, mais uma vez, a Bandeira estava enrolada em seus braços e ele se retirou para o interior de seu castelo para guarda-la.
O Mestre das Ilusões, no entanto, continuava entoando seus cânticos, só que agora o objetivo era aplacar as investidas do Mar Ileia; desarmar Sapho do seu ataque contra a Piratinha Red e rasgar o coração do dragão Mia.
Antes de chegarmos ao fim desta aventura, todavia, cabe aqui mais um parêntese para falar da Piratinha Red: A sanguinária, durante toda a noite, foi a fiel guardiã das duas únicas garrafas de rum que havia no banquete. Com sua adaga entre os dentes, ele iniciou a noite como uma fiel sentinela do precioso líquido, uma vez que os piratas estavam impossibilitados de realizar o Ritual Sacrossanto da Fada Verde.
Porém, com o desenrolar da noite, ao som do duelo mágico, a Piratinha Red foi se desarmando gradualmente, à medida que o rum penetrava como uma doce eutanásia em sua corrente sanguínea, e foi lentamente abduzida para uma outra realidade ainda mais paralela em que aquela que os piratas costumam estar.
O corpo da Piratinha (e que corpo, hein! Uow!) estava lá entre nós. Mas o seu espírito estava mais além. Alheia a tudo o que se passava no banquete do jovem príncipe Bardo, ela nem sequer notou os ferozes ataques da rainha Sapho, com seus olhares dardejantes. Ficou também alheia à manifestação do demônio Lâmbidos e não deu a mínima para as investidas do Mar Ileia sobre as rochas da encosta. Ela também não se apercebeu do dragão Mia. A Piratinha Red estava em outro plano e só o Mestre das Ilusões percebeu sua abdução. Só ele viu toda a beleza e encantamento daquele delírio...
Finalmente, quando o jovem príncipe Bardo retornou para perto dos convivas (sem a Bandeira Pirata nas mãos), o Mestre das ilusões entendeu que já era hora de zarpar. O mar já estava calmo novamente; o demônio Lâmbidos já havia deixado há algum tempo o corpo da Aspira que agora esperava pacientemente pelo seu marujo à beira do mar; a rainha Sapho já estava desarmada e o dragão Mia já estava abatido. A missão estava cumprida, era hora de retornar para o navio. O príncipe Bardo se encarregou de guardar a Bandeira. Por precaução, deixamos a Aspira de guarda, enquanto o Mestre das ilusões regressava à nau com a Piratinha ainda em transe (este transe ainda iria durar mais um pouco, até que ela se banhasse novamente na cachoeira de gotas douradas).
* Este foi um mergulho especial nas Ilusões do Mestre…
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