O tempo deu uma trégua, já não me escraviza mais. Uma taça
de vinho me faz companhia, enquanto ouço o som que não conheço... e tudo não
precisa mais fazer sentido.
Liberdade é uma sensação estranha, devastadoramente incrível,
como se fosse possível senti-la invadindo os poros, penetrando a carne e a
percorrendo a corrente sanguínea, não há mais nada além dela e o gerúndio.
Sabe-se, no entanto que a porta está aberta, e ela invade o
recinto e sinto mais, não muito além do que preciso e ignoro o limite.
É mais do que o corpo pode sentir, a mente não organiza
nada, não é preciso. Sentir é palavra de ordem e instantaneamente o corpo
corresponde e pronto, tudo isso sem obedecer a nenhuma regra.
Os olhos descansam e não precisam ver. Os ouvidos ensurdecem,
não há testemunhas, a vibração do som faz tudo parecer normal e o quanto isso
pode ser anormal pouco importa...
E o coro se forma, tudo que é dito é poesia.
Liberdade não se encontra em lugar nenhum, não há
prateleiras onde pode caber tanto conteúdo, não se pode acha-la quando o desejo
é a única coisa que resta, nem na quantidade exata.
Ser livre está além dos conceitos, dos manuais, fórmulas e
cálculos matemáticos, mesmo naqueles onde é possível comprovar que Deus existe,
que o amor é vivo e anda por aí, para quem quiser encontra-lo, esbarrando sem
querer...
A liberdade chega se apresenta e te abraça, sem a menor
cerimônia, tudo é um divisor de águas.
É preciso saber ser livre.
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