"O texto simplifica meu eu complexo, ora é aliado, ora me faz refém".- Hellen Cortezolli

segunda-feira, janeiro 18

Horas de vida



(Aos amigos Alexandre Brito, Silvio Carneiro e Aog que não estava presente, porém, não foi esquecido)
Na sexta-feira, enquanto eu estava deitada no sofá da sala e, zapeava qualquer coisa para assistir na TV, me ocorreu que não era aquilo que eu gostaria de fazer, estava triste, com uma angústia esquisita... Acabei adormecendo de tanto tédio e acredito ter sonhado com algo muito parecido com:
Piratas ouvirem meu chamado e me resgatarem do tédio maléfico em que era acometida numa sexta, que deveria ser insana. O Capitão Alma Negra, pretendia desbravar terras mais longínquas em companhia de Isabela, a mais nova integrante do navio... Em seus planos, que haviam sido arquitetados num "Trapiche" por volta das cinco da tarde, ele iria ouvir tambores e sorver um líquido precioso que ostentava a teimosia do gengibre ou para os nativos, "gengibirra".
O Pirata Mestre das Ilusões, não poderia se afastar de seu posto, pois seu legado poderia correr perigo. Assim, nos dirigimos ao "Francês" como combinado. Fui levada por um jovem de cabelos compridos, que muito se preocupa com a minha segurança, ele almeja minha mão, mas naquela noite tinha outro compromisso. Reencontrei no caminho amigas que há dias não as via. Elas faziam planos para o fim deste mês...
Lá estava ele... Alma negra com sua "caneca de cevada" numa mão e com a outra beijava a mão da donzela, não tão donzela assim, mas que sobrevivera sem ter conhecimento do livro dos prazeres, como isso é possível? Não sei, mas é. Ninguém finge tão bem não saber.
Pobre alma que permaneceu todos estes anos (e olha que foram muitos) sem ter idéia da existência das 300 possibilidades de ser feliz... O Alma Negra tentou convencê-la que dessas 300 ele, humildemente, só conhecia 150... e poderia esclarecer algumas de suas prováveis dúvidas...rsrsrs.
E então, fui salva de uma sexta tediosa.
Estávamos Alma Negra, Mestre das Ilusões, a donzela e eu (aspirante) à mesa, até juntarem-se a nós a "mexicana sempre bem vinda" que só encontramos com o "Francês"... Mais, tarde um jovem rapaz de cabelos curtos e óculos pediu licença para dividir seus pensamentos conosco, eis o intelectual, como diria Alma Negra com sua risada maldita, senti maldade nos olhos dele, como não poderia deixar de ser...
Lá se foi, noite adentro pensamentos e devaneios dos Piratas e seus convidados. Soubemos que muitos querem ser Piratas também e naturalmente foram desclassificados, rsrsrs. E trocamos os nomes...
Até que o "Francês" deu os sinais do risco que corria e nos indicou outros caminhos a seguir, antes que a "guarda real" se aproximasse...
Pelo avançado da hora, não sabíamos nosso destino, seguimos sem rumo até que o Alma Negra junto de Isabela optasse por uma "Tabacaria", então esse foi o destino... Mestre das Ilusões e seu inseparável "amigo da capa preta" o acompanharam também, uma aspirante como eu não pode desobedecer a seus comandantes e, segui com eles. Para o intelectual ainda era muito cedo para recolher-se...
Vale uma ressalva que justifique a ausência do Pirata bilíngüe (o único que domina o inglês mandarim) dele só tivemos notícias desencontradas, por certo estava bem, provavelmente não precisou do cavaleiro de "uniforme amarelo" e sua montaria...
O céu estava limpo e as águas calmas demais, como bons piratas não nos descuidamos dos possíveis inimigos e já tínhamos estratégias previamente estudadas para contra atacar, para que não fôssemos surpreendidos.
Meu humor mudou várias vezes durante o trajeto, conheço meus limites e por isso sabia que meu corpo anestesiado sentiria uma hora ou outra os efeitos da minha falta de forma. Mas foi divertido.
Muito próximos do destino, começou a chover, sedenta ergui minha cabeça, abri meus lábios, e deixei que as gotículas de água tocassem minha língua, como faria, Alma Negra em uma dessas viagens dele. Eternizei aquela imagem. Foi somente uma nuvem, que tão logo limpou o céu, então foi possível ver a fumaça que se formou ao tocar o chão, o calor que brotava do solo. Aposto que como eu, a terra também sorveu as gotículas, de maneira tão selvagem que em muito pouco tempo, nem lembrávamos que havia chovido.
Na "Tabacaria" onde se encontravam poucos gatos pingados, uns discutiam relação (Aff! Até lá isso acontecia!) na mesa em frente a que escolhemos.
 Ao fundo velhos lobos do mar, cochichavam com olhares atentos ao redor...
Os Piratas Alma Negra e Mestre das Ilusões pediram a companhia de cinco loiras, Ah! Esses piratas insaciáveis e ainda de uma "branquinha" na medida como disseram eles, acompanhada de um "casca grossa meio azedo, que não é páreo para mim", dessa última companhia eu me encarreguei de dar fim. Afinal sou "crítica por natureza e ácida por conveniência e isso não é só um bordão".
Todos foram embora... Abraão ficou, estava cansado... Havia nos atendido bem, nos dera alguns sorrisos, porém, algum tempo depois, que não foi possível mensurar, nos pediu com as mãos juntas como quem tem fé, que fôssemos embora.  Os Piratas têm suas próprias crenças das quais duvidam quase sempre, porém respeitam a fé dos outros homens e mulheres.
Antes é claro, o "amigo da capa preta" do Mestre das Ilusões falou alto e nós o acompanhamos, quando ele fala ninguém consegue não estremecer ou sentir vibrar suas cordas vocais. E ficamos corajosos para admitir nossos mais íntimos sentimentos, de olhos fechados deixamos que nossas essências fossem tomadas por "nosso próprio tempo" quem sabe até "de 29 em 29"e muitas outras mais. Enquanto o Mestre das Ilusões arranca sons ao puxar os fios esticados propositalmente do lado contrário de seu "amigo da capa preta" tudo que queríamos era não querer mais nada.
E a orla foi nossa, a conquistamos por merecimento.
Até que algo aconteceu com Isabela, o Hermético a prendeu junto às grades, mal sabíamos o que pretendia aquele maldito, mantê-la ali para irritar o Alma Negra. Hermético talvez tenha se excedido, eu também não o conhecia, nem tinha notado sua existência até aquela circunstância. Ficamos presos ali também, mas não iríamos abandonar Isabela, o novo amor de Alma Negra. Pirata que é pirata não foge de uma briga.
E o dia foi clareando, as águas do rio, sonolentas despertavam devagar, quase era possível vê-las abrindo os olhos... E o céu parecia tocar o horizonte e, o sol nascia tímido por entre chumaços de algodão, com um contorno alaranjado... O contemplei tão admiravelmente que, envergonhado ele se escondeu, Mestre das Ilusões acostumado, nem ligava mais para o espetáculo.
Foi assim que me senti muitas vezes naquela noite, sobre olhares, mas não me escondi, não tive medo de nada, e fiquei entre amores... Vi o sol desenhar no céu riscos em vermelho, e barcos acordarem para o trabalho. Isso guardarei comigo, para sempre.
Me apossei desse valoroso sentimento que é estar viva, mesmo que eu faça tudo errado. Culpa dos Piratas!
E por fim acordei... Para voltar a minha rotina, um sábado em casa com a família que, me fez passar vergonha com lembranças da minha infância e o domingo de descanso, cuja madrugada cheia de bons sonhos me deu um sorriso grande pela manhã.
Hoje é um novo dia sem dúvida. Que antecede outras noites mais em que eu possa "sonhar" com as próximas aventuras dos Piratas!
Que as horas possam me levar para mundos tão, tão distantes... Como os que os Piratas desbravam.

Um comentário:

  1. Eu sabia que aquela noite só podeia ter sido um "sonho coletivo"!!!!!! kkkkkkk
    Lindo texto!!!
    Salve a Pirataria!

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